No âmbito da discussão pública da estrutura curricular do ensino, escrevi um email dirigido ao ministério da educação (Dr. Nuno Crato) a propor a inclusão de retórica no ensino português:
"Exmos. Senhores,
Sou Francisco Thó Monteiro, tenho 17 anos, moro nas Caldas da Rainha e sou aluno do 11º ano de Línguas e Humanidades da Escola Secundária Raul Proença.
Sou um jovem que está atento à sociedade e que procura participar de forma ativa e assertiva na vida política, tentando contribuir para um futuro melhor. Ao longo da minha vida académica senti algumas lacunas, pelo o que não posso deixar de aproveitar esta oportunidade para vos propor uma medida que me parece ser essencial e que não consta na estrutura curricular no ensino de português.
Esta medida prende-se com o ensino da retórica. Sendo a retórica a arte de bem falar, com eloquência, é-nos solicitado frequentemente, principalmente na apresentação de trabalhos orais, em algumas disciplinas, nomeadamente nas de língua estrangeira, que têm um peso muito relevante na classificação final do aluno, embora tal 'arte' nunca nos tenha sido em qualquer ano curricular ministrada.
Por isso reforço a ideia que, embora nunca nos tenham ensinado como é que se deve apresentar um trabalho oral (apenas alguns pormenores básicos, como por exemplo uma postura adequada), nas várias disciplinas curriculares, fazemos apresentações de trabalhos cuja classificação influencia fortemente a nota final. A retórica é muito mais que isso e, apesar de nos alertarem para a nossa postura, existem técnicas que se podem ensinar de modo a tornar as apresentações dos oradores interessantes para quem os está a escutar. Mas não se trata só de agradar os ouvintes mas também como trabalhar a atitude, a eloquência e a postura do orador, para que este se sinta confortável a discursar perante uma plateia.
A capacidade de expressão em público é algo que nos acompanha ao longo da vida, quer na escola, quer numa futura profissão ou inclusive numa entrevista de emprego e é, sem dúvida, uma competência que se deve criar ou amadurecer nos jovens portugueses, por isso, penso que seria fundamental integrar o ensino de retórica como conteúdo programático na disciplina de Língua Portuguesa no decorrer do ensino básico, e na disciplina de Português ou Filosofia no ensino secundário, com vista a melhorar o futuro do nossos estudantes e consequentemente o futuro do nosso país. Concluo questionando:
Se nos lecionam os conteúdos programáticos de uma disciplina antes de realizarmos um teste escrito de avaliação, porque é que, antes de uma apresentação oral, sujeita também a avaliação, não somos igualmente "ensinados"?
Atentamente,
Francisco Thó Monteiro"
Têm uma ideia que desejam partilhar? O governo está aberto a sugestões (referentes à educação em Portugal) até dia 31 de janeiro. Podem fazê-lo enviando um email, tal como eu, para: revisao.estrutura.curricular@mec.gov.pt
Não fiquem só pelo 'falar'! É a nossa vez de participar!
Francisco Thó Monteiro
Infelizmente perdi o meu comentário original e por isso serei mais breve.
ResponderEliminarO ensino não busca a retórica. Procura sim a absorção de conhecimentos, a sua crítica e problematização e finalmente a sua refutação e proposta de novos (método hipotético-dedutivo.
Ora, seria então profícuo investir numa disciplina e/ou actividade que conseguisse proporcionar aos alunos esse treino oral (referindo a uma postura/aptidão como também a articulação verbal. Parece-me que se coadunaria algo semelhante com o PEJ ou Parlamento dos Jovens. Organizar-se-ia vários temas que seriam entregados a alunos (individual ou colectivamente) que procederiam a pesquisas críticas e aprofundadas mas orientadas e acompanhadas por professores. Teriam então de a partir da informação extraída, elaborar uma moção de acção credível e estruturada. Ensaiariam a exposição da sua moção e respectivas conclusões com professores. Depois, numa sessão pública, debateriam estas questões.
Porque digo isto? Porque o que as escolas se assemelham-se mais é aos canais informativos insípidos, em que se emite muita opinião mas não se elabora cientificamente nada. É necessário dar os meios de exposição aos alunos, todavia, o investimento prioritário é capacidade crítica e problematizadora dos alunos que está hoje em grande falta.
Boa tarde,
ResponderEliminarMas não concorda que, para fazer algo semelhante ao PEJ ou ao PJ, não seria necessário que nos ensinassem a expressar publicamente? Se tal não acontecer ficamos na mesma, simplesmente nos impõe mais uma "apresentação oral" mais aprofundada. Já participei em ambos os projetos preteritamente referidos e nunca me ensinaram a fazer uma exposição oral, apenas me deram umas "dicas".
É preciso construir as paredes de uma casa antes de construir o telhado, e é isso que se passa aqui.
Tenho naturalmente de concordar que é de necessidade irrefutável o investimento na capacidade crítica e problematizadora, mas estas competências podem ser ensinadas através da retórica.
Parece-me que é descentrante do que deve ser o ensino. A experiência é a maior professora no que toca a expressão oral de trabalhos/projectos. Se o clube/disciplina - que sugeri - fosse regular e adoptasse actividades mais pequenas, de carácter preliminar e preparatório para o Debate final, constituiria um esforço significativo em prol do objectivo traçado.
ResponderEliminarClaro, daí existirem apresentações orais, pois a experiência é extremamente importante, mas para além da prática, precisamos de saber fazer.
ResponderEliminarCom a introdução de retórica no conteúdo programático de Português era uma excelente via para ensinar os alunos esta 'arte'.
É claro que a retórica poderia ser ensinada no 1º período e depois era dado aos alunos a proposta de realização de um trabalho para depois ser apresentado ou debatido perante um público (turma).